quarta-feira, 29 de julho de 2015

ao pé do mar

Ir correr e acabar o dia junto do mar. Ler. Olhar o céu de gaivotas e aviões. Respirar fundo e devagar. Sem pressas.
 

 
 

o estranho silêncio de uma casa sem filhos.

 
Não me entendam mal. Gosto do silêncio. E sim, sabe bem estar sozinha de vez em quando, especialmente quando sabemos que os nossos filhos estão muito bem, num local que amam, rodeados de quem também os ama. Mas não deixa de ser estranho passar um dia sem ouvir: "Mamã!"

só porque sim.


sopro


Não há maior lembrança da vida do que a morte. A morte ilumina a realidade. Põe a eternidade às claras. Tem esta capacidade de fazer a vida passar diante dos nossos olhos em minutos breves.
Entro no portão do cemitério. As palavras ecoam: “O pó volte à terra e o espírito volte a Deus que o deu.” Vida. Esse fôlego que nos escapa. As vestes pretas contrastam com o azul do céu. Cinzas do que fomos. Visão do que viremos a ser.
No mesmo instante bebés choram pela primeira vez, apaixonados casam-se, velas são sopradas. Emoções distintas no mesmo globo. Lado a lado. Girando sem trégua. A música é interrompida pelo silêncio. Caminhos que se atropelam, outros que seguem separados. Vida. A pulsar a cada passo que dou. Vida que bate mesmo que não dê passo nenhum. Vida que o é fora e além de mim.
Instantes que se juntam em dias e anos. Encontros que ficam por acontecer. Pessoas que os meus braços não alcançam a tempo ou tantas vezes quanto desejado. Vale-me saber que os verei em breve e que terei todo o tempo do mundo para desfrutar da sua companhia. Um lugar onde poderei abraçar sem os braços nunca doerem, sem a disposição ou o tempo faltar. Mas... e aqueles que provavelmente não encontrarei? E sinto como que um murro no estômago.

terça-feira, 28 de julho de 2015

dizer a verdade


A verdade tem sido traspassada. É vista como apenas mais uma coisa a dizer ou ser, mais uma opção e não como a única possível. Prefere-se a mentira quando se pensa magoar outros ou quando esta traz responsabilidade, consequências, desconforto. Rodeia-se a verdade, esconde-se metade dela e segue-se adiante com consciências torpecidas, que se julgam a salvo. Podemos dar muitas voltas, mas fugir à verdade é não fugir ao pecado. É afastar-se portanto da verdade de Deus. É suposto a verdade triunfar. É suposto ser sempre dita. Não como quem reclama qualquer triunfo de razão nessa verdade, mas simplesmente porque é a verdade e quando esta não é afirmada, tudo cai e nada faz sentido. Não é o nosso Deus um Deus de verdade? Melhor, não é Ele a própria Verdade? Tenho notado que até a evitamos com os nossos amigos, com aqueles que amamos. Ser verdadeiro com o outro não será mais uma prova de amor? Um indicador que queremos guiá-lo no caminho certo, que glorifica a Deus? Não é nesse caminho que devemos encorajar os nossos amigos e irmãos a andar? A melhor coisa não é glorificar a Deus e andar nEle e com Ele? E o contrário, não é o pior que nos pode acontecer? Obedecer deixou de ser uma coisa boa?
Que Deus nos ajude a ser sinceros perante o pecado do nosso irmão, amando, sempre. Mostrando o pecado e levando pela mão. Quando é que o pecado deixou de o ser? Quando deixou de ser grave aos nossos olhos? Não foi devido ao pecado que Jesus foi à cruz? É coisa séria.

uma noite no Tramagal












segunda-feira, 27 de julho de 2015

o casal Fontes


Apresento-vos o casal mais querido à face da terra. O Bernardino e a Carminda. Estes irmãos na fé fazem parte da minha vida desde sempre. Através das igrejas, dos acampamentos e da família, já que os filhos e netos são dos amigos mais chegados que tenho.
Uma das características que mais salta à vista neste casal é a alegria constante no Senhor. Uma alegria conjunta. São 3 em 1, literalmente. A generosidade que destilam para com todos os que os rodeiam é enorme, assim como o seu serviço ao Mestre ao longo dos anos.
No sábado jantámos em casa deles e comemos um belo de um arroz de pato feito no forno a lenha e as famosas tigeladas, tudo feito pela irmã Carminda. Em toda a minha vida não me lembro de ter comido algo por ela que não estivesse absolutamente delicioso. E é tudo servido com muito carinho. Ninguém se sente de fora ou a mais perto deles. Nunca. Abraçam quem está por perto. Sempre. Isto é um dom precioso. Os olhos deles parecem ficar mais meigos com o passar dos anos.
São muitas as lembranças que tenho deles. Guardo três de forma especial. Certo ano, no ABS, no turno Familiar. Era noite das brincadeiras e eu e o meu primo João, as únicas crianças presentes [foi naquela fase em que o familiar era composto de irmãos mais idosos], preparámos uns tantos jogos. Resolvemos fazer o "o rei e a raínha", que basicamente termina com o participante a cair numa cadeira que não existe. Portanto, o jogo ideal para a faixa etária presente. A irmã Carminda voluntariou-se logo para participar, sem saber o que a esperava. A meio do jogo descobrimos que a senhora sofria das costas, o que não era nada descabido, mas que foi algo que na nossa meninice não nos passou pela cabeça. Foi diferente. Deverá ter sido a única vez na história deste jogo em que insistimos e fizemos de tudo para a o participante não se sentar, enquanto ela insistia que queria sentar-se. Acreditem, isto ao vivo foi marcante e nós já imaginávamos a ambulância a abrir caminho pelo meio dos pinheiros.
A segunda memória que sempre guardo com carinho será uma mais geral, que todos os que têm o privilégio de se cruzar e conviver com estes irmãos terão. Os hinos intermináveis que cantam juntos. As estrofes parecem mesmo crescer à medida que vão cantando. O entusiasmo também. Mas também há a famosa dança do irmão Bernardino e as incontáveis histórias, relatadas ao pormenor, sempre com um sorriso. Quando era miúda chegava a fugir delas, agora, é um gozo ouvi-las.
Afinal são quatro, as lembranças. Eis a última. É de manhã no ABS e a maioria ainda dorme. Vejo à porta da tenda os dois, em frente a um pequeno espelho que penduraram numa corda, agarrada ao estendal perto do campo. O irmão Bernardino penteia docemente o cabelo da sua amada, sempre sorrindo. Fiquei parada, a olhá-los, também eu a sorrir.
Sei que no dia em que partirem sentirei a falta deles. Calculo também que quando Deus chamar um deles, o outro não demorará a segui-lo. E se assim se for, o Senhor será gracioso.
No sábado, eu e o Timóteo terminámos a noite a apanhar os coelhos que tinham fugido. "São 6 ou 8!", dizia o irmão Bernardino. Apanhámos 7.

Sair do carro. Cheirar o ar e saber. Cheguei a casa.


para este menino, as secretárias e mesas servem todas para o mesma coisa.

das ajudas boas que os manos dão.



Sempre que o Marcos está a ler sozinho, o Jojó coloca a cadeira junto dele para estar por perto e ajudar sempre que necessário com uma palavra ou som mais difícil. Quando olho, ele já lá está, a postos. E penso... é isto! A postos, prontos, mesmo antes do outro precisar de nós ou mesmo quando precisa e ainda não o sabe. Ali, lado a lado no caminho, com paciência. Chama-se amor.

das coisas boas que o marido arranja e faz.



Chegou a casa com algo para mim: pimento recheado com queijo fresco, mostarda e umas tantas especiarias. Tão, tão bom! Fez pão torricado, algo que a avó dele costumava fazer muito vezes. É fácil e delicioso para acompanhar petiscos. Descascar alguns dentes de alho e raspar nas fatias de pão. Torrar o pão no forno, na grelha ou até mesmo na torradeira e regar com um pouco de azeite. Aconselho vivamente com azeitonas, queijo e um copo de vinho tinto. É a minha costela alentejana, provavelmente.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

miscelânea

 
Não tem faltado movimento aqui por casa nestas últimas semanas, apesar de sermos menos à mesa. Os filhos mais novos estiveram num acampamento e agora, está o mais velho por lá. Entre ídas e voltas, levar e buscar, trouxemos meninos felizes pelo tempo passado longe de casa e uma amigdalite. Amizades fortalecidas e novas criadas. O Jónatas conta-nos entusiasmado a vida de Charles Stuart, lembrando cada detalhe, ajudado pelo Marcos. Também recorda que o pastor no acampamento disse que devemos chorar com os que choram e ficar alegres com os que estão alegres. É isso mesmo, filho. Tudo seria mais simples se assim fosse.

 


Com menos filhos e amigos dos filhos em casa, iniciámos a aventura que as paredes há muito pediam: pintura. Isso e arrumar a garagem, que, acreditem, foi um desafio interessante, ultrapassado a três: eu, o Tim e o Sammy. Nas pinturas, tem nos valido o meu pai e a sua generosidade. Tem andado com as mãos nas tintas e nos rodapés, tirando os antigos e colocando uns de cara nova e lavada e, mais importante, inteiros.
A casa está de pantanas, tal como manda a regra a quem se mete nestas andanças. Esvazia-se um quarto e fica tudo virado do avesso, enquanto se reorganiza uma catrefada de coisas. Mexe-se em desenhos dos miúdos guardados e tem-se aquela sensação estranha que foram feitos há tanto tempo atrás. [Isto há de dar outro post.] Diz-se adeus aos desenhos nas paredes dos quartos dos miúdos, dá-se umas quantas coisas e, vejam só, guardam-se outras a pensar nos netos. Eu disse "netos"?! Deve ser um sinal que sinto a vida avançar. Arrumar tem destas coisas. Vemos que os dias foram breves instantes e que o futuro não tarda. O Verão tem também este efeito em mim. Sempre que chegam as semanas de acampamentos vejo a vida a passar-me diante dos olhos. Tremo. Agradeço. Confio. Limpamos portadas, janelas, paredes, o exterior da casa e lavo de alguma maneira o meu interior. Serve de terapia. Abraço objectos que destilam memórias de momentos bonitos, de pessoas queridas. Limpo o pó e sorrio, abrindo porém novos espaços. Sem medo. Porque a vida é tão larga e cabe tanto cá dentro!





E há intervalos para saborear um gelado de morango caseiro e olhar a luz que entra num quarto vazio, apontando o caminho, iluminando, dando esperança e aliviando o cansaço. Depois, termina-se o dia com bons amigos perto do mar.


quarta-feira, 15 de julho de 2015

filho único


Ter só um filho em casa, é sinónimo de menos barulho. Há duas camas que não são desfeitas, mas de vez em quando há uma mãe sentada nelas a organizar os desenhos de dois meninos que estão num acampamento. O mais velho gosta de ser filho único por uma semana, mas volta e meia vai ao encontro dos primos. Pelo caminho, apanhámos as primeiras amoras.
 

tardes de luz.



ao entardecer...

 
O fim de cada dia oferece-nos uma oportunidade única de cultivar a humildade, enfraquecer o orgulho, e de sentir o que agrada a Deus. Como? Revendo os acontecimentos e concedendo a Deus toda a glória pela graça que experimentamos naquele dia.
- C. J. Mahaney -